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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°70 - MARÇO DE 2003

Manejo

Manejo é a ferramenta para sustentar demanda florestal

Especialistas afirmam que é possível expandir as florestas na Amazônia Legal em 50 milhões de hectares até 2010, com o manejo sustentável

Correspondente a 98% da cobertura florestal com potencial produtivo no Brasil, as florestas nativas constituem uma importante fonte de geração de renda e de empregos, se exploradas de forma sustentável. A execução de bons planos de manejo florestal, com consistência econômica, ambiental e social, pode garantir o aumento da produção de madeira ao mesmo tempo em que protege a floresta de desmatamentos e ocupações desordenadas. O manejo constitui-se numa forma racional de atender as crescentes demandas interna e externa para produtos florestais, incrementando a economia brasileira.

Com aproximadamente 65% (5,5 milhões de Km²) do seu território coberto por florestas o Brasil possui vocação para crescer. Desse total quase 2/3 é formado pela Floresta Amazônica enquanto o restante compõem-se de Mata Atlântica e ecossistemas associados (Sul, Sudeste e Nordeste), Caatinga (Nordeste) e Cerrados (Centro-Oeste). O País possui a maior extensão de floresta tropical do mundo, abriga a maior biodiversidade e é, simultaneamente, o maior produtor e também líder mundial em consumo de madeira tropical. Só a Amazônia representa um terço das florestas tropicais do mundo. A região abriga as maiores reservas de produtos madeireiros (60 bilhões de m³ em tora), conforme o PNF (Plano Nacional de Florestas).

Este volume de floresta tem potencial para gerar riquezas constantemente, tanto através do manejo como pela industrialização de produtos e subprodutos florestais, como a produção de óleos medicinais oriundos da floresta. A produção atual de madeira representa cerca de US$ 2,5 bilhões/ano, valor em constante evolução. Segundo a SBS, com a adoção de prática de manejo, daria para atender toda a demanda interna por madeira, de forma sustentável, utilizando-se apenas de um pequeno percentual das áreas com potencial produtivo. Segundo a Abimóvel, as experiências de manejo sustentável tem mostrado que é possível aumentar a produtividade da extração de madeira, reduzindo o ciclo de corte e a área necessária.

Mas, para alcançar os resultados almejados é preciso realizar o manejo de forma correta. O manejo florestal sustentável é definido como a administração da floresta para obtenção de benefícios econômicos e sociais, respeitando os mecanismos de sustentação do ecossistema, por isso é preciso seguir todos os passos recomendados por profissionais do setor.

A etapa fundamental do manejo de florestas nativas é a realização do inventário florestal, que identificará as espécies com valor econômico presentes na área a ser explorada, bem como sua importância relativa para a preservação do ecossistema. O inventário identificará, também, as condições sociais das comunidades presentes na floresta, evitando que o plano de exploração cause algum prejuízo para a população. A partir do inventário é traçado um plano de exploração que contemple a subdivisão da área a ser explorada em lotes.

Quando o ciclo de exploração estiver completo, a extração de madeira acontecerá novamente no primeiro lote explorado, o qual deverá ter se regenerado parcialmente. O manejo florestal pode ser acompanhado de enriquecimento da floresta, ou seja, do plantio de espécies. Em geral, os planos de manejo de florestas nativas em execução no Brasil envolvem ciclos de exploração de 30 anos.

A exploração sustentável de florestas nativas é importante, também, para a geração de empregos, ocupando, segundo levantamento do Ministério do Meio Ambiente, 20 pessoas/ha/ano. De acordo com essa mesma fonte, os investimentos no primeiro ano da implantação do manejo florestal estão estimados em R$300 por ha, com capacidade de gerar, em média, 40 m³/ha de espécies nobres.

Exploração Privada

A concessão de Florestas Nacionais (FLONAS) para a exploração privada realizada de forma sustentável poderá ajudar na regulação do uso das florestas nativas e na expansão da prática do manejo sustentável. De acordo com o Plano Nacional de Florestas (PNF), essas florestas representam atualmente apenas 1,6% do território da Amazônia Legal e seriam insuficientes para suprir a demanda de madeira em tora dessa região.

A expectativa é que com a implantação e o sucesso do sistema de concessões, seja possível expandir as FLONAS na Amazônia Legal em 50 milhões de ha em 2010. Essa expansão associada a um melhor sistema de fiscalização sobre a exploração florestal tende a aumentar a oferta de madeira obtida de forma sustentável e inibir a exploração predatória. A rentabilidade da atividade também aumentaria, uma vez que não seria necessária uma grande imobilização de capital em terras. O sistema de concessões é utilizado nos Estados Unidos, na Malásia e na Indonésia.

Antes de realizar o manejo é preciso fazer um planejamento de toda a área a ser trabalhada, para poder estimar os custos e só então realizar o manejo. Com organização técnica e financeira o trabalho funciona de forma ágil e com resultados satisfatórios.

Assim, o plano de manejo pode ser organizado em três etapas. Na primeira é feita a divisão da propriedade florestal ou o zoneamento em áreas exploráveis, áreas de preservação permanente e áreas inacessíveis à exploração. A segunda etapa consiste no planejamento das estradas secundárias que conectam a área de exploração. Na terceira etapa, divide-se a área alocada para exploração em blocos ou talhões de exploração anual.

Para fazer o zoneamento é preciso identificar e demarcar as áreas de preservação permanente da propriedade, de acordo com a legislação florestal. Os locais onde a exploração madeireira causaria impactos ambientais, aumentaria os riscos de acidentes e representaria custos elevados são classificados como áreas inacessíveis à exploração, mesmo que para elas não existam restrições legais. Por exemplo, as áreas de floresta com inclinação superior a 30 graus devem ser classificadas como inacessíveis, uma vez que o custo de arraste e os impactos ambientais seriam significativos usando trator de esteira ou trator florestal. Os trechos inacessíveis podem ser definidos preliminarmente usando mapas topográficos e hidrográficos da propriedade.

As florestas restantes da propriedade com um bom estoque de madeiras formam as áreas exploráveis. A estimativa do volume de madeira dessas áreas é feita medindo no mapa da área explorável da floresta e depois multiplicando esse valor pelo volume por hectare obtido no inventário.

No planejamento das estradas, segunda etapa, deve-se levar em conta que o transporte da madeira é feito por uma rede de estradas principais, ligando a área de exploração às vilas e cidades onde estão localizadas as indústrias e estradas secundárias que conectam as áreas de exploração às estradas primárias.

Para o planejamento das estradas secundárias define-se, inicialmente, a rota no mapa. Para isso, consideram-se as características topográficas, infra-estrutura da propriedade e o volume de madeira disponível por hectare. As estradas secundárias devem ser retas, paralelas e localizadas no sentido leste-oeste (a linha que o sol percorre), para facilitar a secagem após as chuvas. Em seguida, demarca-se e ajusta-se a estrada de acordo com as condições específicas da floresta.

Para ordenar a área a ser explorada anualmente, divide-se a floresta em talhões, segundo as demandas do proprietário e as características da floresta. O ideal é que o número de talhões da área seja igual ao ciclo de corte. Em seguida, define-se a ordem de exploração dos talhões ao longo do tempo.

Exploração anual

A exploração anual contínua e similar é indicada quando um proprietário florestal tem como meta explorar anualmente uma área de tamanho similar. Neste caso é dividida a área explorável pelo ciclo de corte. Para as florestas densas de terra firme na Amazônia Oriental, sob regime de manejo, os pesquisadores do Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia estimam um ciclo de corte em torno de 30 anos. Numa área de manejo de 6.000 ha, o proprietário poderia explorar cerca de 200 hectares por ano.

Para atender o consumo industrial, deve-se dividir o consumo anual de toras pelo volume médio de madeira comercial da floresta. Por exemplo, para um consumo anual de 9.000 m³ de madeira em tora em uma floresta com 30 m³ de madeira de valor comercial por ha seria necessário explorar cerca de 300 ha anualmente (9.000 m³/30 m³ por ha). Assim, uma floresta de 6.000 ha seria explorada em apenas 20 anos.

A área dos talhões deve ser aproximadamente 10% maior que a área de exploração. Este “excedente” serve como refúgio para a fauna. Então, no exemplo anterior em vez de 300 ha por ano, seriam necessários 330 ha de floresta.

Um pesquisa feita pelo Projeto Piloto de Manejo Florestal (Imazon/WWF), em Paragominas, Pará, concluiu os custos de todas as etapas de um manejo florestal. A área de estudo (floresta densa de terra firme) apresenta uma topografia plana (inclinação inferior a 5º e uma densidade de 17 árvores maiores que 45 cm de DAP (diâmetro à altura do peito) por ha, das quais 13 têm valor comercial. Desse total, apenas 5 árvores (ou 40m³/ha) foram extraídas por ha, das quais 13 têm valor comercial.

Na elaboração do plano de manejo o custo da coleta de informações, análise e redação do plano de manejo varia em função do tamanho da área a ser manejada. Na Amazônia Oriental, o valor médio é US$ 1 por ha para áreas de manejo em torno de 7.500 hectares. Além disso, há o custo de vistoria prévia do Ibama estimado em US$ 1,7 por hectare.

Para fazer o censo das árvores, demarcar o talhão, abrir as trilhas de orientação são gastos em média US$ 22 por hectare. Do total, US$ 1,8 para demarcar o perímetro do talhão, US$ 9,5 para abertura de trilhas e US$ 10,3 para avaliar e mapear as árvores.

O corte seletivo de cipós deve ser feito com pelo menos 18 meses antes da exploração. O custo varia em função da densidade de cipós na floresta. No caso de Paragominas, onde a densidade de cipós era elevada, 750 indivíduos (maiores que 2 cm de diâmetro) por hectare, o custo do corte de cipós ficou em torno de US$ 19 por hectare.

O custo médio das consultorias, na Região analisada, foi de US$ 3.500 para uma área de manejo em torno de 250 hectares, ou US$ 14 por ha (US$ 3.500/250 ha).

A demarcação das estradas, pátios e ramais de arraste, bem como na direção de queda das árvores a serem extraídas é feita antes da exploração e custa US$ 15 por ha.

O custo total do manejo é estimado em US$ 72 por ha, ou US$ 1,8/m³ de tora extraída, considerando um volume médio explorado de 40 m³ por hectare (US$ 72/40 m/ha). Estes valores podem variar de acordo com o tipo de floresta. Por exemplo, para uma floresta com baixa densidade de madeiras de valor comercial (20 m³/hectare), o custo seria US$ 3,6/m³ (US$ 72/20 m³), ou dobro do custo estimado na área de estudo.

Benefícios do manejo

O manejo florestal propicia vantagens como aumento na produtividade da exploração, melhoria da segurança do trabalho, redução de desperdícios e da quantidade de árvores comerciais danificadas.

Na pesquisa sobre a redução de desperdícios de madeira no corte e arraste, notou-se que na área manejada as perdas são de apenas 1%, enquanto na área sem manejo o percentual sobe para 26% de prejuízo. Conclui-se que para 1 m³ em tora extraído em uma floresta manejada, apenas 0,75 m³ é extraído em uma exploração convencional. Usando esse raciocínio, estima-se que foram salvos 10 m³/ha com manejo.

Na exploração manejada houve um ganho de 37% em eficiência no tempo de uso da máquina para abrir estradas e pátios de estocagem. Essa diferença pró-manejo resultou, em grande parte, da redução da densidade de estradas em 33% e pátios em 70%.

Na exploração convencional, a densidade de estradas foi maior porque foram abertas pouco a pouco, seguindo a concentração das árvores derrubadas. Uma prática que leva à abertura de estradas tortuosas e com ramificações desnecessárias.

O número de pátios na exploração convencional foi maior porque, sem planejamento, os operadores de trator têm apenas uma vaga noção do número de árvores que serão extraídas dos arredores do pátio. Assim, o número de pátios abertos excede o necessário. Outro motivo é a preferência dos tratoristas em abrir pátios maiores para facilitar a manobra das máquinas e caminhões.

Na operação manejada, os pátios são menores em função da informação prévia sobre o volume a ser extraído e também em virtude do planejamento da operação de corte e arraste.

No teste de produtividade no corte o custo da derrubada foi similar nos dois tipos de exploração para o caso da equipe com duas pessoas: US$ 0,31/m³ com manejo e US$ 0,30/m³ na exploração convencional, enquanto o custo do corte de uma equipe de três pessoas (dois motosseristas e um ajudante), atuando em uma área manejada, foi apenas US$ 0,25/m³. Essa vantagem pró-manejo decorre de uma maior produtividade propiciada pela atuação de dois motosseristas com funções distintas: um exclusivamente no corte e o outro no traçamento das toras e remoção dos obstáculos para o arraste.

No arraste das toras houve um incremento significativo na produtividade, após o manejo. Na área manejada foram arrastados 34 m³ por hora contra 23 m³ na exploração convencional, utilizando nos dois casos um trator florestal (skidder). A diferença pró-manejo foi menor no caso do arraste com trator de esteira (28 m³/hora e 27 m³/hora com e sem manejo, respectivamente), pois o potencial de aumentar a velocidade de trabalho desta máquina é limitada. O ganho de produtividade no arraste ocorreu devido ao planejamento e ao uso do mapa de exploração.

A redução dos danos ecológicos foi consistente entre todos os indicadores usados para expressar os danos da extração, tais como a área do solo afetada, a abertura do dossel e os danos às árvores remanescentes. A redução de danos tem implicações positivas para a regeneração da floresta, contribuindo para o volume de madeira disponível no futuro. Na exploração convencional, a extração de uma árvore afeta 488 m² de floresta, enquanto na exploração convencional, a extração de uma árvore afeta 488 m² de floresta, enquanto na exploração manejada afeta apenas 336 m² (arraste com trator de esteira) e 370 m² (arraste com skidder).

No item segurança durante o corte a utilização de técnicas adequadas e o treinamento da equipe de corte reduziu significativamente (em até 18 vezes) os riscos de acidentes de trabalho.

Custos e benefícios

Os preços do manejo a curto prazo (sem considerar tratamentos silviculturais pós-exploratórios) foi calculado em US$ 1,8/m³. Estes custos foram compensados com o aumento na produtividade da exploração e a redução dos desperdícios de madeira.

Os custos de corte e de abertura de estradas, pátios e ramais de arraste oscilou entre US$ 1,8/m³ (skindder) e US$ 1,9/m³ (trator de esteira) , enquanto na exploração convencional estes custos somaram US$ 2,0/m³.

O estudo constatou que é possível acumular, em 30 anos, um volume de madeira explorável próximo ao obtido no primeiro corte: 40m³/ha (com tratamentos silviculturais) e 35/m³ha (sem tratamentos). O volume obtido no cenário sem manejo seria apenas 17 m³/ha. O acréscimo de 84% no volume no manejo deve-se à redução de desperdícios e danos, enquanto apenas 16% deve-se aos tratamentos silviculturais.

O valor líquido presente da exploração da colheita de duas safras de madeira com manejo é 40% maior (em torno de US$ 500/ha do que o da exploração convencional (US$ 365/ha).

O custo da madeira extraída sem manejo é maior porque um volume menor de madeira de valor comercial seria extraído, enquanto o preço do direito de exploração por hectare permanece o mesmo. Para estimar essa perda considerou-se o valor médio do direito de exploração na região de Paragominas: US$ 195 por hectare. Com um volume explorável manejado em torno de 40 m³/ha, o valor da madeira em pé seria US$ 5/m³ (US$ 195/40 m³/ha). Na exploração convencional 25% do volume explorável são perdidos, apenas 30 m³ seriam explorados. Assim, o custo médio do direito da exploração da madeira em pé na área convencional foi US$ 6,5m³ (US$ 195/30). A redução de perdas de madeira teria um valor na floresta de US$ 1,5/m³ (US$ 6,5/m³-US$ 5,0/m³); esse valor equivale a cerca de 83% do custo do manejo (US$ 1,8 m³).

Outro fato é que o desperdício de madeira representa a perda de oportunidade de lucro pela venda da madeira para a indústria. Para cada 1 m³ extraído com manejo, somente 0,75 m³ é extraído sem manejo. Por isso, o lucro da exploração com manejo foi estimado em US$ 9,7/m³, enquanto o lucro da exploração convencional ficou em apenas US$ 6,2/m³ pela exploração de 0,75 m³. O acréscimo de lucro devido ao manejo (US$ 3,5/m³) seria cerca de duas vezes maior do que os custos (US$ 1,8/m³).



Fontes: Livro Floresta para Sempre/ Paulo Amaral/Adalberto Veríssimo/Paulo Barreto/Edson Vidal/WWF/Imazon/Usaid; Amigos da Terra; PNF, Abimóvel e Ibama

Maio/2003